quinta-feira, 25 de abril de 2013

Monólogo.


Um bom vinho, uma madrugada, uma boa música e poesia. O que mais querer? (Pausa. Suspiro. Pensamento. Saudade). Tenho a impressão de escutar um barulho. Será o amor chegando a minha casa? Não. Era só o barulho do vento lá fora. Aqui dentro, só há o silêncio. Um tórrido silêncio nessa casa vazia. Nessa altura da noite minha respiração parece ecoar com mais intensidade. Meus pensamentos, como sempre, divagam sem controle. E nada, nem o vinho, nem a música, nem a poesia parecem preencher o vazio que mora dentro de mim.


Outra música, mais vinho na taça. Agora ouço um bolero, enquanto relembro minha história. Gosto de manter para mim algumas coisas. Penso que livrar-se de pesos não quer dizer exterminá-los das fotografias. Impossível. Livrar-se de pesos é enterrar aquilo que pesa sobre os ombros. As fotografias ficam, só que sem pesos. E assim, elas permanecem: cada foto em um quadro formando um amontoado de objetos sem muita utilidade, mas que vira e mexe resolvo dar uma olhada para relembrar... Lembranças! Agora que tirei essas fotografias das paredes da sala principal de minha vida, passam a ocupar o quarto menor de meu inconsciente.


Não me desfaço delas. Não há como exterminar as lembranças. Há apenas como lidar melhor com tudo. E isso eu tenho aprendido à duras penas. Mas, como disse, prefiro manter cada fotografia. Sei que elas me recordam o que eu era. O que eu fui. O que eu passei. Fotografias me mostram o quanto evoluí nesse tempo. E como um bom vinho, como esse que agora bebo, fiquei melhor a cada dia passado. Eu não me desfaço dessas fotografias, pois elas me lembram quem sou! E permanecem guardadas, sem pó, encobertas com um lenço claro impermeável. 


Outra boa música, mais vinho e mais poesia. O que mais querer? (Pausa. Suspiro. Uma fotografia.  Saudade). Agora, me olho nesse espelho antigo. O mesmo que meus ancestrais olhavam. Olho profundamente dentro de meus olhos e contemplo esse fidalgo da poesia, da intensidade. Filho das horas de profunda angústia e espera, fortalecido pelos ventos da destruição que não foram capazes de arrastá-lo. Vencedor dos ataques da vida e das pessoas. Eu me olho com um novo olhar. Olho pra dentro. Reconheço-me. Valorizo-me. Cansei de brigar com esse cara. Agora tentarei manter com ele uma convivência profundamente amistosa, amando esse nobre rapaz vencedor da guerra do autoconhecimento.


E pra encerrar a noite, peço uma dança. Uma valsa apenas. A valsa das horas e das dores infindas. A valsa do amor às causas perdidas. A valsa que vão achar maluco quem dança, pois não serão capazes de ouvir a melodia. A valsa das perdidas ilusões. A valsa das lembranças, do passado superado e da saudade leve que se fez luz, levando pra longe qualquer treva e escuridão. 



sábado, 23 de fevereiro de 2013

Somos quem podemos ser...

         Em um dia desses me peguei revirando meu baú memórias e lembranças e não tive medo de defrontar com meus maiores monstros e pesadelos. Logo que embarquei nessa tarefa de avaliar e ressignificar meu passado, fui me deparando com rostos que não mais vejo, com momentos que nunca mais voltarão, com situações que nunca mais serão vividas. E nesse caminho, avaliando os dissabores das recordações enfrentadas, o barulho do “o que eu poderia ter escolhido de maneira adversa e feito de maneira diferente” começou a ecoar.

          Não tive medo de me questionar, nem de me permitir reviver algumas experiências, ainda que revivesse a dor ou sentisse vergonha da maneira imatura ou infantil como reagia às situações. Seguindo em frente, em determinado ponto dessa jornada, questionei-me o que mudaria se tivesse esse poder. O que eu faria de maneira diferente se tivesse essa chance? E confesso que essa indagação me perturbou um pouco. Sempre queremos ser senhores do tempo e fazer as coisas do jeito que queremos. Mas estar diante dessa possibilidade é assustador, nós travamos! Dentre tantas dúvidas, incertezas pode ser perigoso mudar a ordem natural dos fatos.

          Nessa intensidade vivida, no final, eu escolhi não mudar nada. E foi daí que extraí um dos meus grandes ensinamentos. Talvez pareça clichê, talvez nem seja tanta descoberta assim. Mas o importante foi sentir e enxergar com meu coração. Talvez a maturidade consista nisso: olhar sua vida do lado de fora se auto avaliar. Começar a se ver e a perceber o seu verdadeiro tamanho, não tendo medo de ser quem você realmente é. Talvez a maturidade habite o momento em que você olhe para situações que antes te faziam tão mal e então passar a encará-las como experiências válidas para seu fortalecimento.
 
          Talvez a maturidade seja olhar para os seus maiores erros e suas mais profundas frustrações e perceber que tudo faz parte de uma coletânea de experiências que juntas fazem quem você realmente é. E mais importante e mágico ainda é perceber que, no fim, nos resta um caminho pela frente. Resta-nos a possibilidade de viver o agora sem economizar “felicidade” para o futuro. E eis a nossa mais importante missão: escolhermos o melhor caminho para continuar a caminhada. Escolhermos, a partir de toda carga que trazemos, aquilo que queremos para nós. Não nos é permitido mudar o que passou. E nem precisamos! Temos o milagre de viver de novo e a possibilidade de recomeçar... e eu escolho por esse recomeço!
                                        
WLucas.