quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Estória de uma dor infinda II ..

       Prendia-se no quarto e se recusava a comer. Não queria mais saber das flores. Não desejava ver o sol nascer. Sentia dor ao pensar quantos males lhe faria aquela dor e solidão. Não sabia em que ponto de sua vida perdera o controle e domínio de si. Não sabia em que ocasião alienara suas forças à alguém que não se importava consigo. Queria sorrir e se esforçava para olhar com ternura através da janela de seu quarto, tentando sonhar mais uma vez ao contemplar as estrelas que brilhavam sobre sua cabeça. Mas involuntariamente mergulhava na escuridão do céu e se submergia na vastidão de seu ser. Se o amor era algo bom porque a deixara daquela forma?
       Dormia pensando naquilo e quando acordava se via impulsionada a arriscar. Acreditava que era possível, após sonhar com um beijo louco... Queria ter de novo o que foi seu um dia e acreditava que podia. Mas em seguida começava a se martirizar por insistir naquela história. Por que era tão inocente? Por que não mudava o rumo de seu pensar e controlava os desejos de seu coração? Estava detestando a situação de ser completamente passional e não distinguia em que momento perdera o controle das rédeas de sua vida.
       "-Foi culpa daquele olhar..." - pensava, deitada em sua cama. E ao lembrar do olhar que lhe causava dor, pensava na possibilidade de tê-los. A dor então sumia por um instante e seu coração se abria, fazendo-na se trair e cair em contradição novamente.
      "-Culpa toda daquele olhar que me hipnotizou e me deixou. E quer saber?" -dizia enquanto abraçava sua almofada e se sentava na cama- "É inexplicavelmente boa essa nova experiência que desperta poesia em mim. É necessário,  apesar de doer, morrer de amor e ainda assim continuar a viver." - pensava e ria de si por ser constantemente inconstante.

         Ela julgava amar. O que não sabia era que por vezes não há amor e sim obsessão ou compulsivo desejo de não estar sozinho. Às vezes ama-se mais a ideia de ter alguém ao seu lado do que a própria pessoa. Ela desconhecia, em sua dor e loucura infinda, que o amor verdadeiro não aprisiona, não enjaula, não provoca angústia e dor insuportável. O amor autêntico desperta vida sincera e te dá a liberdade. E focada em sua concepção limitada, desconhecia a magia da incrível sensação de ser amada. Pois a autenticidade da virtude somente se completa quando acontece o encaixe do sentimento nobre, vivendo assim na reciprocidade, na liberdade de ser intensidade mútua e destemida.
         Um dia quem sabe perceberia isso, vivendo, enfrentando grandes desafios e decepções. E aquela dor que sentia agora, seria um sinal de que cresceu vida sensivelmente insana, mas experiente e forte dentro de si. Mas agora, digo-lhe que ela podia ao menos se alegrar porque era capaz de sonhar e sobretudo, amar. E torço para que não se perca em suas experiências, e desgaste sua essência iluminada com fatos insossos e insensíveis.


WLucas.

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