sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Conflito incessante ..

     Encostado em sua janela o menino olhava a rua. Pelo menos isso era o que as pessoas que o viam pensavam. Contudo sua retina fatigada, não tão quanto a de Drummond, mas já cansada, se perdia para além das montanhas e nuvens. Sua imaginação voava para além dos pássaros. Transcendia todo o mundo físico e repousava em uma realidade distante e inexplicavelmente abstrata, mas que exercia uma força real e dolorosamente concreta em seu submundo. Indagava-se sobre qual seria o fundamento de tudo que vivia. Perguntava-se sobre o propósito da vida ao enviá-lo para aquele lugar. E muito mais que isso, partindo de suas indagações queria se desprender do que lhe impedia de voar. E ele acreditava que poderia voar, quando desse asas ao seus sonhos e precisava de coragem para isso.
      Seus olhos cheios de medo e dúvida se lançavam tentando imaginar o que haveria para ele nessa vida. Pensava no que haveria para si depois daquela montanha e céu nublado. O que haveria reservado naquele horizonte em que sua vista não podia alcançar. E se questionava sobre o que era necessário fazer. Analisava o que havia feito até ali e achava pouco.  Percebia que suas tentativas de mudança não eram suficientes para aproximá-lo da concretização de seus sonhos, sentindo que seus passos se perdiam na caminhada de busca de seus objetivos. Tentava vislumbrar o que haveria no fim daquele caminho que insistia em seguir, onde seus pés cansados seguiam de maneira privada e controladamente. Não conseguia imaginar para onde aquele caminho o levaria e fechava seus olhos, numa expressão de dor. Quem sabe ele até pudesse imaginar o fim daquele caminho e imaginar o entristecia, ao perceber enfim que não era o que sonhava para si.
       Carregava em si um conflito inevitável e uma alma que clamava transformação. Ele sabia da história de muitos que se arriscavam e conseguiam concretizar os sonhos. Enchia-se de vontade e coragem para tal risco necessário. Sabia que teria problemas, dificuldades, entretanto estava disposto a deixar toda segurança de seu mundo para trás na tentativa de crescer. Queria sair dali e lutar pelos sonhos mais lindos que alimentava desde a infância. Sabia das lágrimas que seriam derramadas fora dali no escuro de seu quarto à noite. E talvez tentasse mensurar quantos males lhe faria a solidão. Mas deveria arriscar...e estava disposto a isso. Mas irônica e dolorosamente os grilhões invisíveis e tão reais o prendiam e ele se via repentinamente sem forças.
       Então um súbito sinal surgia no céu naquele cenário nostálgico que seus olhos físicos apreciavam sem perceber e o trazia para ali. O sol apontava entre nuvens e fazia com que alguns raios iluminassem seu rosto já marcado. Ele suspirava fundo, de olhos fechados, sentindo o ar encher seus pulmões. Num momento em que se distraía de seus conflitos e anceios, sentia uma necessidade de viver mais concretamente também o nobre sentimento que tudo inspirava e transformava, a tão sonhada e buscada virtude... o tal amor. Ele que amava tanto o invisível almejava enfim amar o real. Sentia uma imensidão de sentimentos em si, sentimentos puros em seu coração, e tinha o desejo de exteriorizá-los. Contudo, quando tentava as oportunidades fugiam de seu alcance. Lembranças dolorosas e palavras mal ditas lhe invadia a memória e era difícil conter a dor do coração. Seu corpo doía. Suas forças desapareciam e uma lágrima dolorosamente silenciosa caía de seu triste e sincero olhar. Se pressionava contra a janela e perguntava a si mesmo se um dia enfim seria feliz. Será que um dia viveria o amor? Ele se sentia alérgico ao amor. Solitário e cheio de dúvidas disfarçava o choro olhando para as montanhas. Com tantos pensamentos, sua respiração tornava-se difícil. Seu coração disparava.
        Guardava sua dor em silêncio. Disfarçava um sorriso. Não queria chamar atenção de ninguém. Só silenciomente almejava uma oportunidade de vida. Uma oportunidade de amor. E ele sentia medo e frustração frente aquela confusão de sentimentos. Cheio de dúvidas fechava a janela, e antes de fechar as cortinas lançava um olhar esperançoso para o céu, desejando que aquela escuridão um dia pasasse. Vislumbrava o sol entre nuvens e os pássaros que voavam em liberdade sobre sua cabeça. Fechava então as cortinas e naquele momento a escuridão aumentava dentro de sua casa. Pensava com aquele fato que a luz que brilha lá fora não iluminaria sua casa se mantivesse as janelas e cortinas fechadas. O que haveria dentro de sua casa seria apenas escuridão, sendo que ironicamente a luz ainda existiria, irradiante em outro plano, iluminando aos que se permitiam ser iluminados verdadeiramente por ela. Entrentanto não iluminaria ali dentro. Pensativo caminhava lentamente para o seu quarto, tentando projetar em seus pensamentos uma abertura definitiva das janelas, portas e cortinas de sua alma para a vida. Abrir sua alma para a luz. Queria enfim amadurecer de verdade e deixar que a luz entrasse em seu ser, para que se tornasse real toda bagagem de sonhos que trouxera até ali.

Abraços,
WLucas.


2 comentários:

  1. Quuueee Lindooo Luuhhhhh!

    *-*
    Acho que nós dois é uma questão de equiparação de almas... rss de almas que são intensamente sentimentais..

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  2. Ah, guardar a dor em silêncio... disfarçar um silêncio... fechar as cortinas da alma e à sombra dos próprios sentimentos encontrar o abrigo que protege dos conflitos... sim, esses de quem ama!

    como na música dos los hermanos:
    "Quem é mais sentimental que eu?
    Eu disse e nem assim se pôde evitar"



    Alma que ama, conflito invitável.


    beeeeeijo
    Nii

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