sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Frágil coração de pedra. .

         Vivia pelos caminhos a vagar. Não tinha eira nem beira. Maltratado pela insensibilidade da vida recusava-se a acreditar no amor. Tornava-se apático a sentimentos, vestia-se de uma couraça rude e desprezava a ternura de coração. Não se preocupava em ver o sol nascer nem tinha brilho no olhar ao notar o desabrochar da flor. Queria apenas caminhar por si só. Ser livre, ser independente e julgava que assim seria ao agir daquela forma.
        Já não mais sonhava como antes... já não queria se apegar como fizera até ali. Áspero internamente por julgar viver de ilusões, lançava-se na esperteza estranha e insensata de aproveitar a vida sem mais acreditar em um encontro pleno e feliz de grandes almas, que juntas poderiam construir uma história. Não! Não queria isso... não acreditava mais nisso e fechava os ouvidos de sua alma para as palavras doces que ouvia... A musicalidade suave e romântica que fizera trilha sonora de sua vida de sonhador, tornara-se pesada, barulhenta e insensível nessa sua nova postura de vida.
        Seus olhos entretanto, que ele ousava esconder por trás daquelas lentes grossas de dureza, não escondiam o que havia por dentro, por isso evitava olhar no fundo dos olhos das pessoas. Maquiava-se, reprimia-se e fingia ser grande, enquanto internamente alguém pequeno e frágil chorava, escondido, para não demonstrar que era falível. Rude tinha a teoria de que ninguém poderia interferir na sua vida. Ninguém tinha o direito de tentar mudar seus pensamentos ou lhe tocar de maneira mais profunda, afinal, ele não queria. Tinha a si só e isso bastava.
         Evitava se relacionar muito com outrem. Tinha medo de amar de novo e julgava que tendo aquela postura dura, ranzinza estaria imune ao amor. Recusava-se acreditar  no novo que sempre vem, lindo e iluminado para mudar a vida. E perdia assim chances de viver algo real e feliz, afinal como um relâmpago rápido que ilumina a escuridão da tempestade e depois se dissipa, as oportunidades aparecem e se esvaem rapidamente.
         Inutilmente continuava apegado ao passado, com a âncora fixada em solo errado. Seu barco não mais saira dali para vislumbrar outras paisagens... e permanecia imóvel por medo das tempestades que poderia enfrentar. Entretanto uma sensibilidade viva e ardente habitava suas entranhas. E somente essa essência ardente e sedenta por amor é que poderia mudar sua vida.
         E realmente, dentro de si uma alma pura e sincera clamava por amor. Tinha um espírito puro que almejava entregar-se ao vento matinal, sentindo a aurora que chega instaurando um novo dia. Alma que desejava dias de oportunidades, de escolhas. Dias felizes, dias de paz. Mas sua casca resistente que ele fazia questão de fortalecê-la a cada dia impedia que transbordasse os desejos e sonhos imanentes em si, e até quando suportaria ser assim ele não sabia.
          Observador, olhava para dentro de si e perfazendo a atitude introspectiva, perscrutava o âmago de si, e percebia aquela intensidade que tanto valorizara um dia e que ainda estava ali. E tolamente errava por agora ignorar sua essência. Mas não queria pensar sobre isso naquela hora. Não naquele dia. Naquela semana, mês, naquela fase de sua vida. "Depois..." - pensava. "Quem sabe em uma ocasião extraordinária resolva novamente tentar... mas agora não, agora eu vou viver e aproveitar a vida!"
       Não percebia enfim a felicidade que dura a eternidade e magia de um instante, e enganando-se seguia, com o frágil coração de pedra que tomara para si. Seu insensato coração que muito precisava aprender sobre a vida, sobre o amor. Seu imaturo coração que não percebia a magia dos detalhes, oportunamente pequenos e salutares, que poderiam mudar sua vida por completo e para sempre.

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